Qual o impacto da desigualdade na vida das populações, mesmo na vida dos que pertencem à classe média e têm um bom nível de vida?
A maior parte do debate acerca da desigualdade de rendimento tem-se centrado, ora nos problemas dos muito pobres, ora nas amplas implicações socioeconómicas do aumento das desigualdades. O que é menos conhecido é que a desigualdade de rendimento nos torna a todos mais insatisfeitos com a vida, mesmo que a nossa situação económica seja boa.
Examinámos dados do Gallup World Poll e da World Top Incomes Database (Base de Dados dos Maiores Rendimentos Mundiais) e descobrimos que, quanto mais rendimento estiver concentrado nas mãos de uns poucos, mais provável é que os indivíduos registem níveis inferiores de satisfação com a vida e tenham mais experiências emocionais negativas na sua vida quotidiana.
Ou seja, quanto mais alta for a quota de rendimento nacional detida pelo 1% que ganha mais, mais baixo é o bem-estar geral da população no seu todo. Concluímos, especificamente, que 1% de aumento na quota de rendimento tributável detido pelo 1% do topo prejudica a satisfação com a vida na mesma proporção que 1,4% de aumento da taxa de desemprego do país.
Julgamos que isto acontece porque, à medida que os muito ricos se tornam mais ricos, ampliam o intervalo da distribuição de rendimentos. Na prática, isso significa que, mesmo para quem pertence a uma classe média relativamente bem na vida, algumas coisas começam a ter preços acima das suas possibilidades, como as escolas privadas e as casas nos bairros melhores.